quinta-feira, maio 19, 2016

LIÇÕES ACERCA DO DISCIPULADO


Por Pr. Silas Figueira


Texto base: Lucas 9.51-62


INRTODUÇÃO

O conteúdo de Lucas 9.51 – 18.14 é exclusivo de Lucas, apesar de encontrarmos ensinamentos semelhantes em ocasiões distintas nos outros Evangelhos. Outro detalhe é que as palavras Samaria e samaritanos não ocorrem nem uma vez no Evangelho de Marcos, e que só aparece uma vez no Evangelho de Mateus (Mt 10.5). No entanto, Lucas e João nos mostram o Senhor Jesus nesta região ensinando e fazendo discípulos (Jo 4.39-42). 

Jesus está saindo da Galiléia passando pelo território samaritano (9.51) e indo em direção a Jerusalém (19.28), onde, por fim, seria crucificado. Este episódio é conhecido como a narrativa da viagem. Eugene H. Peterson diz que “Samaria é a região entre a Galiléia e Jerusalém na qual passamos a maior parte de nosso tempo entre um domingo e outro. Nenhum de nós é capaz de prever o que nos será dito ou nos acontecerá enquanto lá estivermos”. É nesta “semana” que tudo pode ocorrer, mas também é nesta “semana” que alcançamos crescimento espiritual e colocamos em prática a nossa fé. 

Foi no início desse trajeto que nós nos deparamos com quatro tipos de pessoas que estavam seguindo o Senhor Jesus. Nós temos os apóstolos João e Tiago que se revoltaram com a recusa dos samaritanos em não querer dar pousada ao Senhor e aos seus discípulos; nós temos o que se prontifica em seguir o Senhor para onde quer que Ele fosse, mas o Senhor lhe mostra o custo do discipulado; nós temos o que recebe um convite do próprio Senhor para ser um de seus discípulos, mas que se escusa do chamado, e, por fim, nós temos o que quer segui-Lo, mas primeiro quer se despedir dos seus parentes. 

Creio que esse texto nos dá quatro lições a respeito do discipulado. Vejamos: 

A PRIMEIRA LIÇÃO QUE O TEXTO NOS ENSINA É QUE NÃO DEVEMOS NOS REVOLTAR CONTRA QUEM REJEITA A JESUS (Lc 9.51-56).

Tiago e João não se conformaram com a atitude dos samaritanos, pois para eles aquilo foi uma afronta. Por causa disso, eles estavam dispostos a matar todos ali com fogo do Senhor (v. 54). Provavelmente eles estavam se lembrando do que o profeta Elias havia feito com os soldados enviados pelo rei Acazias filho de Acabe quando o mandou prender (2Rs 1.9-12). 

Muitas vezes este mesmo desejo entra no coração de muitos crentes quando estão evangelizando alguém, e essa pessoa recusa o convite ou ofende a Trindade Santa, ou fala mal da igreja de Cristo. A vontade de muitos crentes é exatamente esta, ainda que não admitam tal sentimento, é mandar fogo do céu sobre o indivíduo. Assim como Tiago e João, eles têm o desejo de ter o poder de mandar fogo do céu e provar que o Deus que eles servem manda fogo e consome os que não o recebem. Esse é o desejo, mas não é isso que o Senhor espera de nós. Aconteceu com Elias, mas ali foi um caso isolado, e ainda que gostaríamos de ter este “poder” dado por Deus, isso não ocorre hoje e nem é para ocorrer.

E isso não ocorre por algumas razões:

1º - Porque não sabemos lidar com o poder muitas vezes. Se houve um homem na Bíblia que soube lidar com poder este foi Elias. Ele não o usou para aparecer ou se beneficiar, mas o usou para glorificar o nome do Senhor. Hoje, falo sem medo de errar, muitas pessoas usariam esse poder para se autopromoverem. Por muito menos já fazem isso hoje, imagine com essa autoridade toda?

2º - Se algumas pessoas tivessem esse poder de fazer descer fogo do céu eliminariam não os que recusam a receber Jesus, mas matariam todos os que o aborrecessem. 

- Não fala assim comigo não se não eu te meto fogo – literalmente. 

Quantas pessoas você eliminaria se tivesse esse poder, já parou para pensar?  

3º - Muito em breve vai aparecer uma pessoa com esse poder e ele será o falso profeta (Ap 13.11-13), que irá promover o anticristo. Se você tem esse poder então já sabemos quem você é.

As pessoas que, a princípio, se recusam receber a Cristo como senhor de suas vidas são dignas de misericórdia e não de morte, pois mortas elas já estão, só não sabem disso. Já estão condenadas ao fogo eterno, por isso que elas não precisam de mais fogo vindo do céu. 

Veja o que o Senhor falou para esses dois apóstolos: “Pois o Filho do Homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las” (v. 56). 

A SEGUNDA LIÇÃO QUE O TEXTO NOS ENSINA É QUE HÁ PESSOAS QUE QUEREM SEGUIR A JESUS, MAS QUEREM ALGUMA VANTAGEM (Lc 9.57,58).

Jesus deixou bem claro para essa pessoa que estava disposta a segui-Lo que não há vantagens materiais em quem O segue, embora, esta não tem sido a mensagem que se anda pregando em muitos púlpitos por aí. 

A mensagem que se houve hoje é de cura, libertação, prosperidade. Essas três coisas andam juntas em muitas igrejas. E há um número gigantesco de pessoas que se deixam levar por essa mensagem. 

Quem as prega são líderes fraudulentos e quem se interessa por ela, são pessoas gananciosas, interesseiras e egoístas. São pessoas iguais aos seus líderes. Gente que vê no Evangelho um meio de fazer o céu aqui na terra. Gente que quer se dar bem diante dos homens. Gente que quer ser melhor que as outras. Gente que vê Deus como um gênio da lâmpada, mas não o querem como Senhor de suas vidas. 

Essas pessoas são mesquinhas, arrogantes e, acima de tudo, estão perdidas, pois elas não ouvem o Evangelho da salvação, mas outro evangelho. Seus líderes não pregam a sã doutrina, pelo contrário, são seus inimigos. 

Como já nos havia alertado Paulo em sua segunda carta a Timóteo:

“Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino: prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas” (2Tm 4.1-4). 

Esse tempo chegou e temos visto isso por aí todos os dias. Infelizmente!

O apóstolo Paulo nos alerta que as pessoas vão se juntar para ouvir pregadores que pregam o que elas querem ouvir. Elas preferem pregadores da conveniência. Elas não querem a verdade, mas aquilo que lhes fale ao coração e que não as ofenda. Por isso que nessas igrejas não se fala em pecado, salvação, senhorio de Cristo. Fala de casa na praia, carro zero, conta bancária rechonchuda, saúde e alegria, mas a salvação da alma, ah! essa continua perdida. 

A TERCEIRA LIÇÃO QUE O TEXTO NOS ENSINA É QUE HÁ PESSOAS QUE QUEREM SEGUIR A JESUS, MAS NÃO QUEREM OFENDER OS DE SUA CASA (Lc 9.59,60).

Este outro pede a Jesus para sepultar seu pai primeiro, em outras palavras, ele estava dizendo que seguiria o Senhor depois que o seu pai morresse. Pois um judeu tinha que cuidar dos pais até que eles morressem. Por isso que o Senhor lhe disse para deixar os mortos sepultarem seus mortos, mas era para ele ir e pregar o Reino de Deus.

Isso não é diferente hoje. Quantas pessoas estão presas a herança religiosa de família. Pessoas que têm medo de ofender os seus familiares deixando a sua antiga religião para se tornar um cristão (protestante). Gente que questiona “o que vão pensar de mim”, “minha família irá me abandonar”. Sinto lhe informar, mas é bem provável que isso aconteça. Aliás, isso tem acontecido com muitas pessoas em todo o mundo. 

Mas não existe só a herança religiosa, existe também a herança cultural. A herança cultural ou social ajuda a moldar o comportamento, moral e ético, de cada sociedade, levando em consideração os padrões vigentes em determinado período histórico, as condições econômicas e educacionais daquela população.

Quando você recebe a Cristo há uma mudança em todos os sentidos na vida do novo convertido. Se houver realmente uma conversão há mudanças radicais que entrará em choque em muitas culturas, pois há uma mudança comportamental, moral e ética, com isso o novo convertido ficará totalmente deslocado na companhia dos velhos amigos. E esse velhos amigos irão questionar o porquê dessa mudança. Alguns não suportarão tanta pressão e acabarão sucumbindo a ela (Mt 13.20-22). 

Por isso que Jesus dá dois conselhos para essa pessoa que queria segui-Lo:

1º - Deixa os mortos sepultar os seus mortos – as exigências do reino são mais importantes que esse tipo de cuidado. Não estou dizendo com isso que devemos abandonar pai e mãe, estou dizendo que o Reino de Deus vem em primeiro lugar. O próprio Senhor Jesus disse que aquele que ama pai ou mãe mais do que a Ele não digno dEle (Mt 10.34-37). Jesus não veio trazer união com o mundo, mas divisão. 

2º - Tu, porém, vai e prega o Reino de Deus – devemos voltar as nossas origens para pregar o Reino de Deus e não para nos mantermos juntos a ele. 

Entenda uma coisa: todo remédio tem seus efeitos colaterais. Pode ser o mais simples. O remédio que o Senhor nós dá também. O remédio que o Senhor nos dá é a nossa salvação, e ela têm seus efeitos colaterais e são muito grandes. Um deles é o rompimento com o mundo. É impossível sermos cristão e vivermos como se não fôssemos; é o que nós chamamos de testemunho. O outro é a mudança de hábitos da vida passada. Leia o que o apóstolo Paulo nos fala em Cl 3.1-16. Essa é a grande questão. 

No entanto, o que mais vemos por aí é gente que se diz crente em Jesus, mas que não parece em nada com um cristão. 

A TERCEIRA LIÇÃO QUE O TEXTO NOS ENSINA É QUE HÁ PESSOAS QUE QUEREM SEGUIR A JESUS, MAS TEM SAUDADES DO MUNDO (Lc 9.61,62).

Despedir dos de casa, esse foi o pedido do outro indivíduo. Quanta gente com saudade de casa. Quanta gente com saudade da comidinha da mamãe. Se fosse isso estava bom, mas a coisa é muito mais séria. Leia o versículo 62 e você entenderá o que o Senhor está dizendo: “Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o reino de Deus”.

Tem gente que ao invés de olhar para frente vive olhando para trás, para o retrovisor. Tem saudades do mundo. Por isso que eu não gosto de testemunho; o camarada gasta cinquenta e cinco minutos contando o que o diabo fez com ele, o que fez e o que deixou de fazer e quando estão faltado cinco minutos para encerrar o testemunho diz que Jesus entrou em sua vida e tudo mudou. Conta cada caso com tanto gosto que a impressão que temos que o cidadão está com muita saudade daquela época.

Crente com saudade do pecado não é convertido, pois quem um dia teve um encontro real com Cristo abomina o seu passado de pecado. 

Tem muita gente em nossas igrejas que são como o populacho que saiu com os judeus do Egito, vive com saudade dos melões, dos alhos e das cebolas que lá havia (Nm 11.4,5). 

Isso me lembra da história que ouvi. Um camarada estava dando testemunho numa igreja e começou contanto das suas peripécias antes de se converter. Num determinado momento ele se empolgou e começou a dizer que antes de se converter colocava várias mulheres em seu carro e ia para o motel e era uma farra a noite toda... Só que ele começou a se entristecer e disse: “Que saudade que eu tenho daquela época”. Alguém então grita: “Vá se converter infeliz!”. 

Faça como disse Paulo em 1Co 9.27: “Mas esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado”.

CONCLUSÃO

Ser cristão é mais que ser uma pessoa salva, é testemunhar a todos que Jesus Cristo mudou o nosso viver. É olhar para aquelas pessoas que rejeitam a Cristo com olhar de misericórdia e pedir que o Senhor lhes dê mais uma chance. É seguir ao Senhor pelo o que Ele é e não pelo o que Ele pode dar ou fazer. É romper com o mundo, mas retornando a ele para anunciar o Reino de Deus e a Sua salvação. É ter vergonha dos pecados passados e não viver com saudade dele. 


Pense nisso!

domingo, maio 15, 2016

Sensualidade é Pecado? Por Quê?

Jonas M. Olímpio
http://ebvirtual.blogspot.com.br/

Apesar da tendência da moda de
um modo geral oferecer poucas
opções legais que sejam decentes,
a mulher cristã deve persistir em
preservar sua imagem moral, pois
sua escolha diante da vitrine é um
dos fatores que comprovam se ela
é mesmo uma escolhida.
    O que é bonito é pra ser mostrado? Vamos ver o que Deus pensa disso: “as obras da carne são manifestas, as quais são: prostituição, impureza, lascívia...”; de acordo com o texto de Gálatas 5:19, lamento informar, mas Ele não concorda com isso não. Antes de dar sequência, quero dizer que embora o contexto desse assunto seja uma exortação mais voltada às garotas, os meninos também estão incluídos, pois admirar a sensualidade é tão pecado quanto praticá-la e também produz consequências negativas. Voltando ao texto em questão, é de extrema importância que respondamos à seguinte pergunta: o que é lascívia? Resumindo as informações que encontramos nos mais conhecidos dicionários, a lascívia é definida como uma “conduta vergonhosa como sensualidade, imoralidade sexual, libertinagem[1], incontinência[2], luxúria; corrupção de bons costumes”. E, por sua vez, a sensualidade indica o estado daquilo que é sensual, ou seja: é relativa à sensação física captada pelos órgãos dos sentidos no que se refere aos prazeres da carne ou ao apetite sexual; é o que estimula o desejo por sexo por meio da exposição do corpo. Traduzindo de forma bem simples: normalmente, se refere à mulher que usando roupas curtas, apertadas ou estando mesmo nua, leva o homem a sentir desejo por ela. Esse é um dos pecados concebidos através dos olhos (1ª Jo 2:16,17). É importante também lembrar que a sensualidade não está apenas no estilo insinuante das roupas, mas também em palavras, gestos, olhares, enfim, o comportamento de modo geral.
    Para se ter uma ideia da gravidade da exposição do corpo, em Oséias 4:11, por exemplo, está escrito o seguinte: “incontinência, e o vinho, e o mosto[3] tiram a inteligência”. Nesse texto em que Deus fala sobre o castigo que viria sobre Israel devido aos seus pecados - entre os quais estão incluídos os atos sexuais ilícitos -, em várias versões, a palavra incontinência aparece traduzida como prostituição[4]. Nos escritos antigos foi utilizado o termo grego “akrasia” que também significa “falta de domínio próprio ou intemperança”. Isso nos mostra que a pessoa que pratica ou admira a sensualidade, além de ser desprovida de inteligência, não tem controle sobre si própria e está sim, de certa forma, se prostituindo. Então você pode me questionar: “Mas desprovida de inteligência por quê?”; e eu posso responder: “Porque pessoas inteligentes não se expõem. Elas se valorizam, pois têm a consciência de que seu corpo não está a venda e quem se interessar por elas deve  primeiro conquista-las para depois ter acesso ao seu conteúdo”. Interessante também que aqui esse ato aparece associado ao consumo de bebidas fortes; afirmação essa tão realista que nos dias atuais vemos o quanto aquelas que se perdem no álcool e nas drogas acabam, por muitas vezes, devido à sensualidade, sendo exploradas ou abusadas sexualmente. Não vou, não posso e nem devo, de maneira alguma, defender nenhum ato de agressão sexual, mas a grande verdade é que em grande parte dos casos de estupros, as vítimas atraíram seus próprios agressores pelas roupas insinuantes que as mesmas estavam usando. Aí entra aquela polêmica questão: “Isso quer dizer que eu devo perder minha liberdade de me vestir como quero?”; então eu coloco uma outra questão: “Vale a pena preservar uma liberdade que coloca em risco sua segurança?”. Aí não adianta questionar a permissão de Deus ao sofrimento de uma pessoa “inocente” sendo que esta, por se comportar indecentemente, não somente pecou contra Ele como também se colocou voluntariamente numa situação de perigo (Rm 6:23).
    Analisando a prática da sensualidade de uma forma bem realista, vou te mostrar apenas dez dos diversos motivos que você tem para não ser uma pessoa sensual:
1.     Ela fere os princípios morais exigidos por Deus.
2.     Além de estar pecando, leva outros a pecarem por alimentar suas fantasias obscenas[5] ou também por falarem mal de sua vida.
3.     Ela mancha o teu caráter moral destruindo sua boa reputação.
4.     Com a moral manchada e a reputação em baixa, dificilmente alguém vai confiar em você para um relacionamento sério.
5.     Se expondo como um objeto sexual passa a ideia - ou a certeza - de que é alguém fácil de se levar para a cama.
6.     Esse tipo de exposição revela pensamentos ou fantasias sexuais dessa pessoa, te levando a ser vítima de preconceito por parecer que ela só pensa em sexo.
7.     Isso te coloca em situação de risco, podendo te fazer ser vítima de violência física.
8.     Além de violência física, devido à má reputação, isso pode também te provocar traumas que deixe consequências por toda a vida.
9.     Sendo uma pessoa cristã, o problema é ainda mais sério, pois dessa maneira você está escandalizando o Evangelho, dificultando a salvação de outras almas e envergonhando a Igreja.
10. Tal ato consiste em erro consciente o qual acarreta em várias outras consequências incluindo a perda da salvação se não houver arrependimento e mudança (1ª Co 6:9-11[6]).
    Em 1ª Timóteo 2:9, a Bíblia orienta as mulheres a usarem trajes honestos, os quais devem ser com pudor[7] e modéstia[8], o que significa não mostrar ou deixar transparecer partes íntimas do corpo e ter moderação até mesmo na exibição de joias para não parecer soberba ou arrogante. Dessa forma, a Palavra as continua instruindo que a verdadeira beleza é interior (1ª Pe 3:3). Será que isso significa que devemos “demonizar” a moda e só usar roupas ultrapassadas? É claro que não! O importante é saber se vestir, não importa qual seja o seu estilo ou gosto pessoal. Deve-se ter bom senso para saber diferenciar ensinamentos sobre usos e costumes da doutrina bíblica, pois a Palavra de Deus não impõe encargos pesados, ela apenas nos leva a entender que devemos andar de uma forma que nos diferencie do mundo não necessariamente pela aparência, mas pelas atitudes que demonstrem pureza (1ª Ts 4:1-3). Nosso corpo é extremamente importante para Deus, seu valor é tão grande que ele é habitação do seu Santo Espírito (1ª Co 6:18-20). Por isso, se vestir e se portar decentemente não é uma mera obediência a regras de igreja, mas um ato de referência e fidelidade ao Senhor que tem grande propósitos em nossa vida, mas exige de nós condições para permanecermos em sua presença (1ª Ts 4:7). Sendo assim, quando o inimigo, através dos seus instrumentos vierem a te elogiar não pelas suas qualidades, mas pelo seu corpo usando argumentos do tipo “Deus só quer o coração!”, simplesmente responda: “Ele me criou, me salvou e me sustenta por inteiro; então pertenço a Ele por completo” (1ª Ts 5:23). Além do mais, ao vestir roupas sensuais, ainda que a sua intenção não seja fazer nenhuma insinuação sexual, existe a questão da sua imagem pessoal: a sua moral (1ª Ts 5:22; 1ª Co 10:31-33).




[1]Libertinagem: Vida de libertino. Devassidão, licenciosidade, lascívia, sensualidade, imoralidade, luxúria.
[2]Incontinência: Lascívia. Falta de moderação no controle do apetite sexual (1ª Co 7:5).
[3]Mosto: Vinho novo. Sumo da uva, antes de se completar a fermentação. Suco, em fermentação, de qualquer fruta que contenha açúcar.
[4]Prostituição: Comércio sexual do corpo (Os 1:2; Gl 5:19). A prostituição cultual era praticada na adoração aos deuses da fertilidade Astarote e Baal; na época, eles acreditavam que relações sexuais com prostitutas ou prostitutos fariam com que as terras produzissem boas colheitas e os animais tivessem muitas crias (Dt 23:17-18; 2º Rs 23:7). Figuradamente, esse termo também expressa infidelidade a Deus (Jr 3:6-13; Ez 16:1-41).
[5]Obsceno: Indecente, sujo, imoral, vergonhoso.
[6]Sodomita: Nascido ou habitante de Sodoma: cidade que foi destruída por Deus junto com Gomorra devido à imoralidade sexual. Homossexual (1ª Tm 1:10).
[7]Pudor: Sentimento de pejo ou vergonha, produzido por atos ou coisas que firam a decência, a honestidade ou a modéstia. Vergonha. Pundonor, recato, seriedade.
[8]Modéstia: Simples; sem vaidade. 

Jonas M. Olímpio

segunda-feira, abril 11, 2016

Nada aflora meus sentimentos como o Natal – seu brilho, suas cores, suas cantatas. Ele e a Páscoa são os únicos momentos do ano em que é-se lembrado que Cristo não é propriedade de nenhuma religião. Mas espere: essa não é mais uma daquelas frases de efeito politicamente corretas. O ecumenismo do Natal traz mesmo muitos inconvenientes: essa conversa de espírito natalino, fraternidade universal, paz mundial, fé no amor etc. não passa de um disfarce fajuto para a reivindicação – esta, sim, sincera – “não torrem minha paciência, respeitem meu espaço, teçam-me mil loas, torçam pelo meu sucesso e então poderemos nos tolerar”. É claro que a maior parte das celebrações natalinas é incontornavelmente pagã. Mas o mundo é pagão. O que quero dizer, e o Natal me faz lembrar, é que, se uma função vital compete à religião cristã face à humanidade, esta não é a de criar uma mensagem salvadora (fosse esta, tal mensagem seria mui pouco fidedigna), mas a de receber uma mensagem que lhe é – à própria religião cristã – surpreendente, e transmiti-la fielmente. A Natividade foi anunciada, e tal anúncio registrado na Escritura, a astrólogos pagãos. Cristãos que, ano após ano, tentam demonstrar erudição dizendo que o Natal é uma invenção de Constantino, a apropriação de um ritual de louvor ao deus-sol, e debatendo – santo Deus! – se é pecado ter uma árvore de Natal em casa, são duplamente ignorantes. Esquecem-se, exatamente na data mais propícia para se lembrar, de que Cristo é anunciado a todos, e o papel – civilizador, com efeito – da religião cristã é anunciá-Lo na exatidão e plenitude de Sua manifestação.

Este ano, dois aspectos complementares da mensagem do Natal assaltaram-me o pensamento.

O primeiro deles deriva-se de uma fortíssima imagem poética que se repete na obra de um dos maiores cineastas e um dos maiores artistas cristãos contemporâneos, Terrence Malick: a da infância como lugar da verdadeira utopia. O paradoxo é proposital: utopia é negação do topos, é aquilo que não tem lugar. A infância, podemos enxergá-la como um lugar, mas tão somente lugar de transição – o que acarreta benesses e desconfortos. Em The thin red line, Malick apresenta-nos a crianças indígenas, brincando com pedras, nadando no rio, cantando em uníssono as cantigas da aldeia; alegram-se com pouco, são expostas a fortes adversidades: tudo lhes fala de morte, muitas viram suas mães falecendo atormentadas por moléstias, a ameaça de uma invasão estrangeira é constante, o mar é imprevisível porque pode sempre trazer o navio inimigo. No auge da guerra, com a aldeia em farrapos, o questionamento é inevitável: “Esse grande demônio, de onde vem? Como se entranha no mundo? De que semente, de que raiz se desenvolveu? Quem é que está fazendo isso? Quem está nos matando? Furtando-nos de vida e luz, brincando com o que talvez pudéssemos vir a saber... Será que nossa ruína beneficia a Terra de alguma maneira? Será que ajuda a grama a crescer ou o sol a brilhar? Essa escuridão está dentro de ti também? Já teve esse pesadelo também?” Não menos cruenta do que a guerra com armas é a guerra interior a cada ser humano: não se pode negar, o problema está em nós, somos nós que fazemos a guerra. O questionamento que atravessa a mente de quem destrói e de quem vê a destruição é invariavelmente pela imortalidade: de que vale ela, se é que há uma, perante o poder de destruir e o infortúnio de ser destruído? Mas o alvoroço da guerra passará, e então o que ecoará na floresta, o que atravessará o mar, é a cantiga das crianças – cantiga que não morre e assim nos comunica a eternidade. Em The tree of life, a criança aprende sem nenhuma dificuldade o que as freiras ensinam: a diferença entre a natureza e a graça. Quando é constrangida pela impaciência do pai – ao ensinar a tocar piano, ao ensinar a jogar baseball, ao ensinar a capinar o jardim, ao insistir para que jante toda a comida, até ao inquirir como foi seu dia ou fazer-lhe carinhos –, após sentir raiva, refugia-se sob a mãe, e até faz troça do equívoco paterno em achar que a natureza pode vencer a graça. Com a mesma precipitação com que faz travessuras – quebra uma janela, mata um passarinho, briga com o irmão, rouba uma peça de lingerie –, se sensibiliza com aquilo para o que os adultos se esforçam, quase como uma questão de sobrevivência, em não dar atenção: a deficiência física, a senilidade, o banditismo. A infância não é exatamente um paraíso: ser iniciante nas convenções sociais, não saber como se portar na maioria das situações, não saber como se defender da maioria dos perigos, e como não bastasse, poder ser impactado com a morte de um irmão – tudo isso tem um quê de infernal. Mas o mundo é uma criança de Deus, e haverá de ser redimido. Em pular sob as árvores, em correr sob o sol, em cantar em frente ao ventilador em movimento, nessas banalidades sinceras está a Alegria – a Alegria à qual nos dirigimos ansiosamente durante toda a vida, da qual nos esforçamos por lembrar quando somos achatados por prédios cinzentos, por preocupações de adultos, por cansaço e falta de tempo. No fim, naquela imortalidade anunciada pelo canto das crianças de The thin red line, dois retornos serão igualmente redentores: o do irmão que falecera e o da infância que se fora. A fraternidade não é mais implicada pelo medo e pela insegurança, mas se mostra uma fraternidade esclarecida. Ali até o pai demonstra graça para com os filhos; os abraços são desinteressados porque tudo o que se pode desejar já é presente e atual. Não doar é uma impossibilidade sob o doce constrangimento da doação absoluta. A eternidade é a apreensão daquilo que nos escapa: da infância. Mas não de qualquer infância, e sim da infância redimida, da infância sob o império da Graça, sob o cuidado direto e permanente do verdadeiro Pai.


O segundo aspecto da mensagem do Natal a assaltar-me o pensamento este ano deriva-se diretamente da expressão de fé apostólica, registrada na Escritura, no “Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo”. Os cristãos veem-se graciosamente surpreendidos com o privilégio de se referirem a Deus, não como o Deus de antepassados desconhecidos e mortos, não como o Deus de Abraão, Isaque e Jacó, mas como o Deus daquEle que é atualmente nosso Senhor, daquEle que conhecemos pessoalmente – e não somente Deus, mas Pai de nosso Senhor. Conhecemos Deus não como aquEle que se revelou contidamente a patriarcas, mas como aquEle que nada esconde de nosso Senhor, que com Ele é Um só, que com Ele está em comunhão desde sempre e para sempre, e que O enviou pessoalmente até nós. Por isso, nossa relação com Deus não depende de nossa filiação a profetas antigos – quão frágil é tal filiação: “Até dessas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão!” –, mas de nossa fé naquEle que é gerado de Deus, de Sua natureza, Seu unigênito. Não é de nossas relações, de nosso trato para com a família, o clã ou o povo, de nossas obras, que a nossa salvação depende. Recebemo-la de graça porque Cristo é Filho de Deus e, nEle, podemos nós também sê-lo. Podemos nos confortar em saber que só somos filhos de Deus porque antes disso Jesus é filho de Deus, que Deus só é nosso Pai porque antes disso Ele é Pai de Jesus, numa relação perfeita: nossa infância foi redimida. Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo!


Esses dois aspectos da mensagem do Natal parecem-me complementar-se na síntese realizada por Michel Henry com sua fenomenologia da vida (e torna-se ainda mais interessante citá-lo quando se lembra que Malick, que também tem formação em Filosofia, é especialista em Heidegger): com a encarnação do Verbo, não apenas podemos dizer que Deus se revelou remotamente, mas também que a carne passa a revelar o Verbo. “[...] a Encarnação do Verbo é sua revelação, sua habitação entre nós. Se podemos ter relação com Deus e ser salvos nesse contato com ele, é porque seu Verbo se fez carne em Cristo. A revelação de Deus aos homens é, pois, aqui, a existência da carne. É a própria carne como tal que é revelação” (Encarnação: uma filosofia da carne, p. 28). Nenhuma carne pode ser encontrada no limo da terra: nele só há corpos. “Algo como uma carne só pode advir e nos advém do Verbo” (idem, p. 31). De onde vem o grande demônio aludido em The thin red line permanece, em última instância, um mistério, mas pudemos assistir à vinda do grande Deus, e Ele nasceu de uma mulher!


Desde então, todas as noites são felizes como aquela em que a virgem concebeu em Belém. Desde então, os anjos não param de entoar: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens aos quais Ele concede o Seu favor”. Podemos olhar para uma criança e, com toda a sua imperfeição, com toda a nossa imperfeição, vermos uma imagem de Cristo. Foi para ela, foi para nós, foi para as crianças aldeãs que Deus se fez homem. Essa é a garantia de cumprimento da verdadeira utopia. Quão glorioso é sabê-lo! Quão glorioso é anunciá-lo! Nossa fé não poderia ter um fundamento mais firme: ainda que o mundo desabe, um lugar abrigará a esperança, e para lá deveremos olhar – a manjedoura.